Mamões, campainhas, polícias e vândalos. Estamos apenas a falar de uma reunião de câmara


Estivemos hoje na reunião pública mensal da Câmara Municipal de Matosinhos. Já tínhamos saudades destes espetáculos!
A sessão vespertina começou com a intervenção do povo. Mais uma vez deu para perceber que as pessoas se enganam muito no caminho. A maioria dos oradores devia ter ido à porta ao lado, a Matosinhos Habit, a empresa municipal que gere a chamada habitação social - só a freguesia de Matosinhos tem 13 conjuntos habitacionais deste tipo de um total 4.330 habitações em todo o concelho de que a CMM é senhorio! - ou então ao Tribunal - para dirimir questões entre vizinhos. Uma das cidadãs entrou mesmo em diálogo aceso com a presidente da Câmara e teve de ser gentilmente convidada a sair, precisamente quando dizia algo que nos pareceu semelhante a "melões". Pelo meio, deu para ficar a saber que o problema do lixo continua presente, com a líder autárquica a confessar que há, de facto, problemas na varredura. Não era preciso dizer, já todos sabemos. Vamos lá ver agora se colocam as campainhas no bairro e se os moradores seguem o conselho da presidente Luísa Salgueiro, que instou os moradores a zelarem e velarem pelas campainhas. Estão a ver no que dá quando uma câmara se transforma num grande senhorio?
Ainda pensei expor alguns dos meus problemas habitacionais (por exemplo, tenho alguns azulejos a descolarem na fachada) mas lembrei-me que não sou utente da MatosinhosHabit e que pago muito mais que 30 paus de renda. Temos pena, pá, na próxima vida se te fazes de pobre e deixas de viver apenas como pobre.
Posto isto, tiveram a palavra os vereadores. Os da oposição, claro, pois os da casa só estavam lá para carregar o telemóvel, com a exceção do vereador das ciclovias e das rotundas, que interveio para mostrar a sua satisfação por ter sido aberta mais uma possibilidade de utilizar o ramal de Leixões para transporte público. Não vem muito ao caso a estação de Leixões estar dentro da área portuária e aduaneira e a quilómetros dos núcleos populacionais e de já ter abortado uma primeira experiência "por falta de passageiros", como me parece ter dito a própria presidente da Câmara.
António Parada fez as despesas da oposição e alertou para vários problemas. Por exemplo, a existência de uma ciclovia no meio de um passeio, na rua Alfredo Cunha, que já provocou um acidente; e a dificuldade de estacionamento para cargas e descargas na mesma rua; o vereador do SIM quis saber também o que se passa com a sucata a que o Ministério da Justiça chama depósito de carros que está ali ao lado do tribunal e que recebe entusiasticamente todos aqueles que entram em Matosinhos pelo antigo IP4. Luísa Salgueiro não apreciou propriamente estas considerações e lá mais para a frente fez questão de lembrar ao seu antigo chefe da campanha de 2013 que lhe fez o favor de dar um gabinete e uma secretária. Sempre ingrato, António Parada fez conta que estava a dar corda ao relógio.
Quanto a Narciso Miranda, teve uma performance shakespeariana e flanou em alegorias e outras figuras de estilo no fundo sempre para dizer "sim, senhora presidente".
O PSD, por seu lado, esteve particularmente ativo mas um tanto monocórdico pois só nos recordamos da frase "não aprovo". Mas foi claramente o partido ou movimento com maior peso, tendo em conta as pastas que Jorge Magalhães carregava.
Ainda deu para ouvir a presidente de Câmara perorar sobre segurança, garantindo que o número de furtos tem diminuído em Matosinhos, mas não precisando se se estava a referir à localidade do mesmo nome que existe no Brasil. Para Salgueiro, declaradamente não é a proximidade de uma esquadra ou o policiamento de rua que dissuade o crime.
 As coisas que aprendemos nestes sítios.